26 de abril de 2014

GEMMA DOYLE 3- DOCE E DISTANTE- LIBBA BRAY

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Londres
A NOITE ESTAVA FRIA E LÚGUBRE e, nas margens do rio tamisa, os ribeirinhos amaldiçoavam sua sorte. Vagar entre as sombras do grande rio de Londres para obter algum lucro não era uma profissão muito gratificante, mas servia para pagar uma refeição aqui e ali. Mesmo que, gostassem ou não, a umidade que paralisava os ossos e causava dor nas costas, também estivesse incluída nesta tarefa.
— Encontrou alguma coisa, Archie?
— Nada — responde Archie para seu amigo, Rupert. — É a pior noite que eu já vi na minha vida.
Fazia uma hora que estavam ali e a única coisa que tinham conseguido era um pedaço de tecido do corpo de um marinheiro. Talvez na manhã seguinte pudesse ser vendido para um brechó. Mas o bolso com algumas moedas colocaria comida e cerveja em seus estômagos, naquela noite, mas para ribeirinhos como Archie e Rupert, era o presente que contava. Querer ver mais além do dia seguinte era considerado um otimismo tolo, característico daqueles que não passavam a vida recolhendo os mortos do rio Tamisa.
A única lanterna no barco não conseguia combater a maldita névoa. A penumbra assombrava a margem. Do outro lado do rio, as casas sem iluminação pareciam caveiras escuras. Os ribeirinhos navegavam pelas zonas mais rasas do Tamisa, enfiando seus longos arpões na água suja, em busca de cadáveres de quem tinham topado com a má sorte — marinheiros ou estivadores bêbados demais para salvarem-se do afogamento, pobres vítimas de uma briga de facas em um confronto contra ladrões ou assassinos, e malandros arrastados pela forte correnteza, com os bolsos cheios de um valioso e pesado carvão, o mesmo carvão que os tinha levado à morte.
O arpão de Archie topa com algo sólido.

— Ei, vá mais devagar, Rupert! Encontrei alguma coisa!
Rupert pega a lanterna e a segura, iluminando a área onde flutua um cadáver. Eles retiram o corpo da água, e o colocam no convés, virando-o de frente.
— Caramba — diz Rupert. — É uma senhorita.
— Era — diz Archie. — Reviste os bolsos.
Os ribeirinhos começam a sua terrível tarefa. A mulher parecia ser rica. Ela usava um vestido de seda cor de lavanda, fino, e não parecia ter sido nada barato. Não era o tipo de pessoa que eles costumavam encontrar naquelas águas.
Archie sorriu.
— Ah! Olá!
Ele tirou quatro moedas de um dos bolsos do casaco da senhorita e mordeu cada uma.
— O que você achou, Archie? Há suficiente para uma garrafa de cerveja?
Archie olhou atentamente as moedas. Não eram libras. Eram xelins.
— Sim, embora não mais do que isso — resmunga. — Pegue o colar.
— Certo.
Rupert tira a gargantilha da mulher. Tratava-se de um objeto curioso, um pedaço de metal em relevo com a forma de um olho, do qual pendia uma lua crescente. Aquilo não era nenhuma jóia; ele não poderia imaginar alguém querendo isso....

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