alvez você tivesse saído para atender a
uma ligação quando nos viu pela primeira
vez ou, se preferir, estava terminando um cigarro
discretamente antes de voltar para o
aconchego do bar. De qualquer maneira,
chamamos sua atenção, em pé em um vão
entre prédios do outro lado da rua, não tão
distantes de onde você está.
Não se engane, isso não quer dizer que
sou especialmente linda, nem ele. Somos
como qualquer outro casal na noite, não
usamos roupas estranhas nem somos barulhentos,
nem significantes em nossa insignificância.
Porém há uma intensidade, alguma
coisa fermentando entre nós, que paralisa
você, faz você olhar, apesar de estar superfrio
e de você estar realmente se preparando para
entrar e se juntar novamente aos amigos.
A mão do homem está agarrada no meu
braço em um aperto tão visivelmente firme
que, até a distância, por um instante, você se
pergunta se vai machucar. Ele me empurrou
contra a parede e sua outra mão está enfiada
nos meus cabelos, me paralisando, então
quando tento olhar para outro lado — para
pedir ajuda? —, não consigo.
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Ele não é particularmente alto ou forte.
Na verdade, você provavelmente o
descreveria, caso fosse se dar ao trabalho de
descrevê-lo, como um cara qualquer. Mas
tem alguma coisa nele, alguma coisa em nós,
que faz você se perguntar rapidamente se está
tudo bem. Não consigo tirar meus olhos
dele e a profundidade óbvia do meu espanto
significa que por um segundo você também
não consegue. Você o encara fixamente tentando
enxergar o que estou enxergando. E então
ele puxa meus cabelos, aproximando
minha cabeça da dele em um movimento
brusco que faz você se aproximar instintivamente
para intervir, antes que aquelas
histórias dos jornais sobre bons samaritanos
com finais trágicos inundem seu cérebro e
paralisem você.
Agora, mais perto, você consegue escutálo
falando comigo. Não as frases inteiras —
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não está tão perto assim —, mas palavras suficientes
para que você tenha uma noção. São
palavras evocativas. Palavras perversas. Palavras
feias que fazem você achar que realmente
deve interferir a qualquer momento se
a coisa piorar.
Puta. Vagabunda.
Você olha para o meu rosto, tão perto do
dele, e vê fúria reluzindo em meus olhos.
Não me vê falando, pois não digo nada.
Estou mordendo o lábio como que reprimindo
o desejo de responder, mas permaneço
calada. A mão entrelaça meus cabelos
com mais força e me retraio, mas continuo
ali, não exatamente passiva — você
pode sentir o esforço que tenho de fazer para
não me mexer como se ele fosse uma coisa
tangível — mas certamente controlada,
amenizando o ataque verbal….
16 de março de 2013
O DIARIO DE UMA SUBMISSA–UMA HISTORIA REAL** SOPHIE MORGAN
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