2 de abril de 2013

SANGUE QUENTE** ISAAC MARION

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Estou morto, mas isso não é tão ruim. Aprendi a conviver com isso. Desculpe não me apresentar da forma correta, mas não tenho mais um nome. Dificilmente algum de nós tem um. Nós os perdemos como perdemos chaves de carro, os esquecemos como esquecemos de alguns aniversários. O meu talvez começasse com R, mas isso é tudo que sei. E
engraçado porque quando eu era vivo, sempre me esquecia do nome das outras pessoas. Meu amigo M diz que a ironia de ser um zumbi é que tudo é engraçado, mas você não consegue rir, pois seus lábios apodreceram.
Nenhum de nós é atraente, mas a morte foi mais gentil comigo do que com muitos outros. Ainda estou nos primeiros estágios do apodrecimento. Apenas a pele cinza, o cheiro ruim e os círculos negros embaixo dos meus olhos. Quase posso me passar por um homem Vivo precisando de férias. Antes de me tornar um zumbi, devo ter sido um homem de negócios, um banqueiro, corretor de ações ou um jovem estagiário aprendendo o negócio,
pois estou vestindo roupas boas. Calça preta, camisa cinza e gravata vermelha. M tira um barato de mim às vezes. Ele aponta para minha gravata e tenta rir, soltando um ronco gorgolejante e meio engasgado do fundo de suas entranhas. Ele usa uma calça jeans rasgada e uma camiseta branca, que agora já parece bem macabra. Ele devia ter escolhido uma cor escura.
Gostamos de fazer piadas e especular a respeito de nossas roupas, afinal, estas últimas escolhas de estilo são a única indicação de quem fomos antes de nos tornarmos um zero à esquerda. Algumas são menos óbvias que a minha: um shorts
e uma regata feminina, uma saia e uma blusa. Por isso damos chutes aleatórios.
Você era uma garçonete. Você era estudante. Lembrou de algo?
Nunca dá certo.
Ninguém que eu conheço tem alguma memória específica. Apenas um conhecimento vago, um vestígio de um mundo que se foi há muito tempo. Fracas impressões de vidas passadas que duram como membros fantasmas. Reconhecemos a civilização — prédios, carros, a visão geral da coisa - mas não temos um papel nela. Nenhuma história. Apenas estamos aqui. Fazemos o que temos que fazer, o tempo passa e ninguém faz nenhuma pergunta. Mas
como falei antes, não é tão ruim. Pode parecer que não temos cérebro, que não pensamos, mas não é verdade. As engrenagens enferrujadas da coerência ainda funcionam, só que em uma velocidade cada vez mais lenta, até que o movimento externo fique praticamente imperceptível….

FILME: MEU NAMORADO É UM ZUMBI

TRAILER

O protagonista é R (Hoult), um zumbi tentando se adaptar à sua nova condição. Ele não faz ideia do que aconteceu, quem ele era ou mesmo seu nome. Em uma caçada pelas ruínas de uma cidade, flashes da vida de sua vítima surgem. São lembranças vívidas adquiridas diretamente do cérebro que consome e, em meio a esta crise existencial, encontra Julie (Palmer), uma garota humana que ele que precisa proteger desesperadamente. R não faz sabe de onde veio este sentimento, nem quem realmente é a pessoa.

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