Nas minhas primeiras memórias, tenho três anos e estou a tentar matar a minha irmã. Por vezes a lembrança é tão viva que me consigo lembrar da comichão que a fronha da almofada fazia debaixo da minha mão, da ponta aguçada do seu nariz contra a minha palma. Ela não tinha hipóteses face a mim, é claro, mas mesmo assim não resultou. O meu pai apareceu, preparando a casa para a noite, e salvou-a. Ele levou-me para a minha cama.
— Isto- disse-me ele- nunca aconteceu.
Quando crescemos, eu parecia não existir, excepto em relação a ela. Observava-a enquanto dormia do outro lado do quarto, com uma longa sombra a unir as nossas camas, e contava as maneiras. Veneno, deitado em cima dos seus cereais. Uma corrente forte na praia. Um relâmpago.
No entanto, acabei por não chegar a matar a minha irmã. Ela fê-lo sozinha.
Ou pelo menos é isso que digo a mim mesma.
10 de outubro de 2013
A GUARDIÃ DA MINHA IRMÃ- JODI PICOULT
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