26 de março de 2015

PELA LUZ DOS OLHOS SEUS- JANINE BOISSARD

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A BELA ERA eu!
Tinha 8 anos, cabelos castanhos compridos, cílios grandes sobre olhos verdes – não, “amarelos”,
zombava Agathe, minha irmã mais velha. Dentes proeminentes, o que seria fácil de consertar com
um aparelho, e a pele morena, que me protegia dos raios de sol. Ah! Eu era a cara do meu pai, um
tipo mediterrâneo com uma remota ascendência de espanhóis.
Agathe, por sua vez, puxara a mamãe, garota do Norte, loura de olhos azuis, esguia e na como só
ela. Pão branco, pão preto. Não são farinha do mesmo saco, brincavam carinhosamente as pessoas
ao nos verem lado a lado. Vale dizer que papai era padeiro.
Vivíamos entre o mar e as macieiras, na Normandia, numa aldeia de setecentos habitantes –
número que triplicava na temporada turística, pois cava pertinho de Deauville. Com as
tempestades que às vezes nos roubavam um marinheiro, as ressacas, um ou outro deslizamento de
penhasco, os amores do carteiro, os da Sra. Pointeau por incontáveis gatos e cães que um dia a
devorariam, nunca nos entediávamos em Villedoye. Todo mundo se conhecia e... A padaria não é,
para todo cristão que se preze, a parada obrigatória de todos os dias?…

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