22 de fevereiro de 2013

A MÃO ESQUERDA DE DEUS 2 # AS ULTIMAS QUATRO COISAS ** PAUL HOFFMAN

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Imagine. Um jovem assassino, não mais que
um menino na verdade, está cuidadosamente
escondido entre os longos juncos verdes e
negros que crescem abundantemente pelos
rios de Vallombrosa. Ele está esperando há
muito tempo, mas é uma criatura paciente à
sua maneira, e a coisa que aguarda talvez
seja mais preciosa do que a vida para ele. Ao
seu lado estão um arco de teixo e flechas com
pontas de aço capazes de penetrar até a armadura
mais cara, se a pessoa estiver perto o
suficiente. Não que hoje haja alguma necessidade
disso, porque o jovem não está esperando
algum canalha que mereça a morte,
só uma ave aquática. A luz aumenta, e uma
fêmea de cisne voa pelo bosque enevoado, os
corvos gralham com amargura, reclamando
da injustiça diante da beleza da ave que
pousa na água como a pincelada de um pintor
sobre uma tela, direta e bela. Ela nada
com toda a famosa elegância da espécie, embora
jamais se tenha visto um movimento
tão gracioso em um ar tão parado e enevoado
sobre uma água tão cinzenta.
Então a flecha, aguçada como o ódio,
corta o mesmo ar que a fêmea de cisne
abençoa e erra a ave por vários passos. E ela
voa, sua força e elegância conduzem a brancura
de volta ao ar, para a segurança. O
jovem fica de pé agora, observando a ave
escapar.
— Eu pego você da próxima vez, sua vagabunda
traidora! — Ele berra e joga longe o
arco, que é o único de seus intrumentos de
morte (faca, espada, cotovelo, dentes) que
nunca conseguiu dominar e, no entanto, é o
único capaz de lhe dar esperança de reabilitar
o coração partido. Mas nem ao menos
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isso. Porque, embora seja um sonho, nem
mesmo em sonho ele consegue acertar a
porta de um celeiro a 20 metros. Ele desperta
e fica remoendo por meia hora. A vida real
toma cuidado com a sensibilidade dos desesperados,
mas mesmo o maior dos carniceiros,
e Thomas Cale com certeza é um deles,
pode ser zombado impunemente em seus
pesadelos. Então ele volta a dormir para sonhar
novamente com as folhas de outono que
se espalham sobre os riachos de Vallombrosa
e as grandes asas brancas batendo no ar do
amanhecer.

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