22 de fevereiro de 2013

ANGUS 1 # O PRIMEIRO GUERREIRO ** ORLANDO PAES FILHO

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Mágica! Qual outra palavra resumiria tão bem a saga de Angus MacLachlan? As
aventuras de seu clã escocês percorrem os séculos que já foram chamados de "Idade
das Trevas", um tempo que insiste em permanecer no imaginário popular, em ser
amado por sua fantasia e mistério. Do rei Artur à Joana D'Arc, das Cruzadas e dos
cavaleiros templários a Ricardo Coração de Leão. Princesas, reis e nobres, castelos e
exércitos com armaduras e espadas mágicas, druidas e celtas, magos e eremitas;
florestas encantadas: nossa cultura, chamada ocidental, foi forjada nesse ambiente de
conquista, de luta, e, principalmente, do desenvolvimento da religião do Cristo, a cruz
como símbolo do bem e da vitória sobre o mal.
A saga que é apresentada aqui neste primeiro volume mescla uma narrativa
fantástica com uma ambientação histórica centrada nas ilhas britânicas da Alta Idade
Média (séculos V-IX). Orlando nos conta o surgimento e a cristianização do clã dos
MacLachlan. Neste período conturbado, as ilhas passaram por um acelerado processo
de barbarização e recuo do cristianismo. Com o fim do Império Romano, as populações
bretãs romanizadas que ali viviam foram abandonadas à própria sorte, sofrendo
migrações e ataques constantes vindos do continente desde o final do século IV.
Basicamente foram três os povos germânicos invasores: anglos (provenientes do atual
Slesvig), saxões (a maior parte da atual Alemanha e Dinamarca) e jutos (da Jutlândia
— norte da Dinamarca, Frísia e baixo Reno). Estes povos destruíram o que restou da
cultura romana na ilha.
Como a Bretanha foi a região menos romanizada durante a existência do Império
Romano, a forma de dominação diferiu em alguns pontos essenciais da ocorrida no
continente: os invasores conservaram e impuseram sua própria língua; mantiveram as
instituições bárbaras e o direito consuetudinário, sem influência do direito, romano;
estabeleceram seus próprios métodos de cultivo. Eles eram pagãos e, diferentemente
dos francos, não adotaram o cristianismo. Assim, estavam livres de qualquer influência
da cultura latina. Após sua instalação, guerrearam constantemente entre si.
No entanto, já no século V, a Igreja enviava missionários às ilhas. Os mais famosos
foram São Patrício (c. 385-461), segundo a Crônica Anglo-Saxã, enviado pelo papa
Celestino I (422-432) em 430 para "pregar o batismo entre os escotos", São Germano
(378-448), São Gildas e São Columba (528-614), que criaram importantes mosteiros,
responsáveis pela preservação da escrita e da cultura antiga. Seu modo de vida era
muito duro e austero. Os mosteiros tinham um estilo de vida basicamente tribal. O
objetivo daqueles religiosos era a fuga do mundo para buscar a elevação espiritual na
solidão das florestas.
Nesse contexto histórico, Orlando dá o ponto de partida para sua narrativa. O clímax
dessa primeira parte de sua saga é, em minha opinião, a conversão de Angus ao
cristianismo. O herói sofre um processo de transformação psicológica de cunho éticoreligioso
pelas mãos do monge Nennius, que na vida real foi um importante historiador
do século IX. O monge explica a Angus a natureza das virtudes e como o cristão deve
tê-las a seu lado para lutar contra os pecados. Neste primeiro livro da saga, Angus
ainda recebe sua espada mágica, forjada por mãos bárbaras — uma das teses mais
famosas da queda do Império Romano atribui o sucesso dos bárbaros em campo de
batalha à excelência de sua metalurgia. E, como se sabe, a espada foi para os
medievos um instrumento recheado de simbolismo, seja pagão seja cristão. Por
exemplo, para a sagração do cavaleiro, a espada simbolizava a cruz de Cristo,
conforme um importante texto do século XIII sobre a cavalaria, escrito pelo filósofo
Ramon Llull: "Ao cavaleiro é dada a espada, feita à semelhança da cruz para significar
que, assim como nosso Senhor Jesus Cristo venceu a morte na cruz na qual tínhamos
caído pelo pecado de nosso pai Adão, o cavaleiro deve vencer e destruir os inimigos da
cruz com a espada. E como a espada é cortante em cada parte, e a cavalaria existe
para manter a justiça, e justiça é dar a cada um o que é seu por direito, a espada do
cavaleiro significa que ele mantém a cavalaria e a justiça com ela".
Em suma, espero que você, caro leitor, tenha o mesmo prazer que tive ao ler a vida
do clã escocês dos MacLachlan, pois o destino dessa saga é o sucesso.
Ricardo da Costa, Professor de História Medieval da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES)

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