30 de novembro de 2014

A ESCOLHA DO CORAÇÃO- AMANDA BROOKE

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Um dos ponteiros do relógio passou por cima do outro, marcando aquele breve e irreversível
instante em que um dia termina e outro começa. Holly estava deitada na cama, acariciando a
barriga alta e acalmando seu bebê ainda não nascido do tremor de medo que atravessou seu corpo, tão
irrefreável quanto os ponteiros do relógio.
Ela estava deitada de costas e teve que fazer um esforço considerável para se virar de lado. Precisou
manobrar seu volume cuidadosamente enquanto abafava os incontáveis gemidos, pois temia acordar
Tom, que estava virado para o outro lado, roncando baixinho. Holly se aconchegou a ele até sentir os
cachos desalinhados roçarem em seu nariz. Ela inspirou profundamente, deliciando-se com o cheiro
quente e doce.
— Amo você — murmurou Holly.
O som da voz dela foi quase inaudível, mas a verdade era que Holly já se tornara uma especialista
em manter as coisas só para si. Passara muitas noites insones, deitada ao lado dele, lutando contra a
ânsia de quebrar o silêncio e contar a Tom que o dia em que ela teria que deixá-lo se aproximava cada
vez mais.
— Hoje é o dia — disse Holly a ele. — Você vai se tornar pai. E que pai incrível vai ser. Mas não
será fácil. Vai pensar que não é capaz de lidar com a situação, mas isso não é verdade. Vai ficar
furioso comigo por deixar vocês dois, mas acabará entendendo. Um dia, você olhará para a nossa filha
e saberá o que eu sei. Saberá que ela valeu o sacrifício.
Tom se mexeu, inquieto, ainda adormecido, e Holly prendeu a respiração. Não queria acordá-lo…
ainda não. Mas precisava se desculpar em voz alta, mesmo não querendo que ele escutasse. Aquele era
um dos últimos itens em sua “lista de coisas a fazer”. Isso e dar à luz, é claro.
Holly passara os últimos meses se preparando para a chegada da filha e, tão importante quanto isso,
se preparando para partir da vida do bebê e do marido. Tom amava Holly por sua obsessão em fazer
planos, algo que beirava a neurose, mas até ele ficaria chocado ao descobrir como ela se preparara
bem para este dia. E de que outra forma Holly poderia morrer em paz?
— Eu te amo — repetiu Holly. Uma lágrima solitária rolou por seu rosto, e ela sentiu que o que
sabia pesava mais do que o bebê que carregava. — Sinto muito por não ter lhe contado, por não ter
podido lhe contar. Mas é que, por mais apavorante que tudo isso seja para mim, teria sido insuportável
para você. Tive que tomar algumas decisões duras e aprendi do modo mais difícil que as melhores
decisões nunca são as mais óbvias. Também aprendi outra coisa. Que o amor permanece, às vezes das
formas mais impressionantes. Eu prometo que estarei ao seu lado nas horas mais difíceis.
Holly deixou escapar um soluço e, dessa vez, foi alto o bastante para despertar Tom. Ele se virou
sonolento na direção dela.
— Você está bem? — murmurou Tom, ainda tonto de sono, mas logo acordou de vez, assustado. —
Está na hora?
— Na hora? Não, ainda não — assegurou Holly, sem conseguir disfarçar um sorriso triste. O tempo
havia sido um inimigo desde o momento em que eles haviam se mudado para a antiga casa da guarda,
que agora chamavam de lar. Isso fora apenas 18 meses atrás, e os pensamentos de Holly voltaram ao
momento crucial, quando o tempo começou a se esgotar.

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